Dou continuidade ao debate sobre combate ou
erradicação da pobreza rural. Minha intenção é fazer uma história social dos
programas e projetos de combate a pobreza rural na região Nordeste. Na postagem
anterior fiz apenas uma breve introdução.
Portanto, vou começar pela história social dos
programas/projetos de combate a pobreza rural.
Os esforços de transformação do meio rural da
região Nordeste, têm como um marco referencial importante a intervenção
planejada do Estado, nos anos 50, com a formação do GTDN - Grupo de Trabalho
para o Desenvolvimento do Nordeste. Este por sua vez, elaborou o documento “Uma
Política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste”. Este Grupo de Trabalho
ofereceu as bases para a criação da SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste.
Na década de 1970, com a elaboração do
POLONORDESTE, o segmento identificado até então como a face da pobreza rural,
os minifundistas, foi considerado, pelos elaboradores deste programa, o
detentor de potencialidades produtivas.
O POLONORDESTE sucedeu ao PROTERRA - Programa de
Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste,
elaborado e implementado no auge da ditadura militar. Segundo Wilkinson (1996,
p.27), este programa não chegou a cumprir os objetivos propostos por
confrontar-se com grandes proprietários de terras.
O fracasso do PROTERRA serviu de justificativa para
as mudanças que orientaram a formulação do POLONORDESTE. Tais mudanças
coincidem com a decisão do Banco Mundial, em 1973, de priorizar o financiamento das políticas públicas de
combate à pobreza.
Wilkinson ressalta também que logo após o anúncio
das definições do Banco Mundial, foram iniciadas as conversações com as
autoridades governamentais do Brasil, tendo como objetivo aumentar os empréstimos
para os projetos que contemplassem as novas linhas de prioridade da agência. Ante tais questões vejo a necessidade de
indagar: Neste contexto, não seriam os programas de combate à pobreza rural
demandas induzidas pelo Banco Mundial?
Outro projeto, com as mesmas finalidades, e
financiado pelo Banco Mundial, foi o – PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno
Produtor, com financiamento da ordem de US$ 826,7 milhões contratados em 1985.
Executado nos Estados da Região Nordeste e no Estado de Minas Gerais. Este
programa foi reformulado em 1993, devido à falta de aplicação dos recursos, da
ordem de US$ 500,00 milhões. Foi evidenciado, também, que grande parte dos
recursos aplicados não atingiu os chamados pequenos produtores pobres; sendo
gastos em administrativas, e não no chamado combate à pobreza rural.
A nova estratégia de ação do projeto, transferia
para as “comunidades rurais”, a
decisão sobre os projetos a serem financiados, num limite de até US$ 40,000.00
e não seriam reembolsável. Para Wilkinson, essa reformulação foi influenciada
pelo Banco Mundial.
Um estudo realizado por Ricardo Pereira
Soares(1996, p: 25) aponta o seguinte:
“[...] parcela expressiva dos recursos do PAPP foi
efetivamente transferida para as comunidades rurais e quase sempre utilizada na
implantação dos projetos contemplados.[...], estando concluídos do ponto de
vista da execução financeira. Contudo, os projetos não estão atingido a
finalidade de melhorar as condições de vida das comunidades pobres, porque a
maioria estavam desativada[...].”
Outro aspecto de suma importância para o estudo
sobre os financiamentos do chamado combate à pobreza, são os seus custos para o
conjunto da sociedade. Soares informa que:
[...] os juros pagos pelo Brasil ao Banco Mundial
são elevados, calculados em 13,44 % ao ano no caso dos empréstimos para o
estado do Rio Grande Norte. [...] os dos estados de Pernambuco e do Piauí, os
juros estimados são relativamente menores, mas ainda elevados, sendo,
respectivamente, de 12,10 % a 11,68 % ao ano. [...] no cálculo dessa taxa de
juros, somente se consideraram os custos financeiros diretos, recebidos de
recursos pelo país e pagamentos realizados ao banco. Não foram considerados
outros custos, como negociação de empréstimo e de cláusulas do contrato que
representam custos adicionais para os devedores.” (Soares, 1996:26).
Observo que o ‘”combate a pobreza rural” tem se
configurado num mercado, no qual o dinheiro é vendido aos Estados que se
anunciam “preocupados em erradicar a pobreza”. Nesse
jogo, que envolve uma tríade de agentes – os pobres, os vendedores do dinheiro
e os governos – as vantagens são obtidas apenas pelos vendedores do dinheiro,
que o recebe corrigido e os governantes que auferem prestígio no campo
político. Se fosse diferente, a pobreza rural não existiria mais. E mais, a pobreza
no Brasil só foi aliviada nos últimos 6 ou 8 anos, e não foi por intermédio de
programas destes programas.
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